MANIFESTO PELA PRESERVAÇÃO DA OBRA DE JOÃO FILGUEIRAS LIMA LELÉ
FAUFBA
04 de dezembro de 2024
Em 2018 realizou-se na Faculdade de Arquitetura da UFBA a “Jornada pela Preservação da Obra
de João Filgueiras Lima - Lelé”, momento em que diversas instituições tais como o IAB/BA, o
CAU/BA e CAU/BR, ICOMOS, ANPARQ, FNA, FAUFBA, Instituto João Filgueiras Lima,
DOCOMOMO e outros signatários manifestaram sua preocupação e sugeriram providências
relativas ao desaparecimento precoce e os problemas de conservação da obra de um dos mais
importantes arquitetos brasileiros do Século XX (vide carta em anexo).
Após seis anos, retomamos o debate no âmbito da comemoração da reabertura do Módulo
Iansã da FAUFBA. É possível anotar algumas vitórias neste ínterim, tais como o tombamento da
Igreja da Ascensão do Senhor no Centro Administrativo da Bahia (CAB) pela Fundação Gregório
de Matos (PMS), a recuperação do Módulo Iansã da FAUFBA, a transformação da sede do TCU
de Salvador em instalações do IFBaiano e a manutenção conservativa da sede do TRE. No
entanto, segue necessário persistir em ações de salvaguarda desta obra construída e do acervo
arquivístico a ela conectado.
Dentre as ações ainda pertinentes, e citadas na carta de 2018, destacamos a solicitação feita
ao IPHAN para proteção das obras e a solicitação realizada ao CAU/BR para que pudesse
capitanear a angariação de fundos para apoio à criação do Arquivo João Filgueiras Lima.
Casos em que a obra de Lelé segue ameaçada também precisam ser destacados, cabendo citar,
dentre outro, os casos do edifício do Centro de Exposições do Centro Administrativo da Bahia
(CAB), do desmonte do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) e da proposta de demolição
do Palácio Tomé de Souza, sede da Prefeitura Municipal de Salvador.
Inaugurado em 16 de maio de 1986, o Palácio Tomé de Souza foi montado em 14 dias e
significava o retorno físico da administração ao Centro Histórico. Expressava o reencontro da
administração da cidade com sua identidade original, a afirmação de um partido transparente
e aberto aos cidadãos, próprio daquele momento de reabertura democrática, após o golpe civil
militar de 1964, reafirmando Salvador como capital cultural do Brasil.
A delicada concepção do edifício levou em conta alguns pontos importantes: sua estrutura,
definidora do partido geral, correspondente a uma opção de rápida execução, baseada na
pré-fabricação e na racionalização, eficiente e com a menor produção de resíduos. A opção
pela estrutura metálica decorreu ainda da limitação física de sobrecarga e de modulação que a
construção exigia, uma vez que a nova edificação foi realizada sobre um estacionamento
subterrâneo, a inóspita laje apelidado de "Cemitério do Sucupira”. Principalmente, representou
a reaproximação da administração municipal com o espaço popular e democrático que o
Centro também simbolizava, reafirmando o seu valor cultural.
Ao apelo simbólico do edifício, sobrepõe-se o histórico e o urbanístico, recuperando a
configuração da praça cívica onde foi construído o edifício da Prefeitura, somando-se ao prédio
da Câmara Municipal e ao Palácio Rio Branco, antiga sede do governo da Bahia – refazendo a
ação histórica de instituição dos poderes na cidade, tomada pelo próprio Tomé de Souza na
proposição daquela praça, ainda no século XVI.
A corroboração desse gesto, no século XX, é carregada de expectativa de reativar em Salvador
suas qualidades metropolitanas, reconhecidas em seu desenho inicial. Projeta a reconstrução
de sua importância em nível nacional ao reconhecer seu patrimônio cultural a partir do ato
político-administrativo de inserir a sede do poder municipal com uma linguagem moderna
naquele espaço.
A atual ameaça de demolição do prédio desconsidera esse histórico por completo: ignora o
gesto contemporâneo do arquiteto no sítio histórico, o diálogo entre as arquiteturas de
diferentes épocas e a excelência da produção de Lelé e sua contribuição para a cidade de
Salvador, que vem sendo eliminada sistematicamente sob os mais disparatados argumentos.
Esse patrimônio, fruto do gênio de um dos maiores arquitetos brasileiros do século 20, precisa
ser conservado. Ele é testemunho da delicadeza e do respeito que a arquitetura pode oferecer
na reapropriação do conjunto histórico que forjamos – e onde nos espelhamos na contínua
construção de nossa identidade, onde apagamentos dessa magnitude não podem ser mais
tolerados.
As instituições abaixo assinadas comprometem-se a trabalhar pela implementação de ações
pela preservação da obra de João Filgueiras Lima, na medida de seu melhor esforço, e como
parte de um contínuo fortalecimento de movimentos de preservação do legado de importantes
exemplares da arquitetura brasileira.
IAB/BA
CAU/BA
SINARQ/FNA
FAUFBA
Instituto João Filgueiras Lima
DOCOMOMO/BA