








Evento inédito na UFBA valida a "Ciência Comunitária" com líderes de 10+ terreiros tombados, culminando no Manifesto de Ação Climática e na Carta da Juventude levados à COP30, provando que o conhecimento afro-brasileiro é uma tecnologia de adaptação climática.
SALVADOR, BA – 14 de Novembro de 2025 – O I Seminário Patrimônio & Clima: O Que Fica Quando o Mundo Muda? e o Workshop Preservando Legados: Avaliação de Riscos Climáticos dos Terreiros de Candomblé da Bahia, realizados na Faculdade de Arquitetura da UFBA (FAUFBA) entre 04 e 06 de novembro de 2025, foram um marco na interseção entre cultura, ciência e ação climática. Organizado pelo Grupo de Pesquisa EtniCidades: Relações Étnico-Raciais em Arquitetura e Urbanismo (CNPq/PPGAU/UFBA), o evento não apenas reuniu a academia e a comunidade, mas gerou produtos científicos e políticos de alcance global, reafirmando o papel de Salvador como epicentro do debate sobre patrimônio e resiliência.
O Poder da Cosmopercepção Afro-Brasileira na Adaptação Climática
O projeto surge de uma necessidade urgente: a preservação dos Terreiros de Candomblé, sítios de inestimável valor cultural, diante dos crescentes impactos da crise climática. O Seminário provou que a resposta está no empoderamento das comunidades de terreiros para agir na preservação de seus patrimônios, unindo conhecimentos locais e tradicionais à ciência climática.
A relevância do evento atraiu a atenção internacional. Esteve presente uma delegação de representantes de diversos sítios de atuação da Iniciativa Global Preserving Legacies, muitos deles reconhecidos ou em reconhecimento como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, como o Delta do Okavango (Namíbia/Botsuana), La Floresta (Equador), a Spa Towns (Bath - Reino Unido) e Sjøgata (Noruega). Estes parceiros vieram à Bahia para aprender diretamente com as comunidades de terreiro – que incluíram a participação ativa de mais de 10 lideranças de terreiros tombados – sobre como a sua relação ancestral e sustentável com a natureza se traduz em tecnologia de enfrentamento e resiliência aos eventos climáticos extremos.
"A crise climática é também uma crise de identidade. O Seminário provou que a resposta está na união da ciência com o conhecimento ancestral, criando uma tecnologia social de adaptação. A fala de Mãe Alda de Oyá, do Terreiro Ilê Axé Opô Ajimudá, por exemplo, foi um chamado urgente para a educação ambiental a partir da mitologia africana," ressaltou a organização.
A Cientificidade do Engajamento Comunitário
O Workshop Preservando Legados não foi apenas um encontro de debates. Ele validou uma metodologia de avaliação de riscos pioneira, resultado de nove oficinas preliminares realizadas em importantes terreiros como Roça do Ventura, Casa de Oxumarê, Bate-Folha e Ilê Agboulá. A metodologia inovadora incluiu:
1. Cartografia Afetiva: Mapeamento dos valores e atributos culturais dos terreiros em relação aos riscos climáticos.
2. Abordagem Lúdica e Gamificada: Utilização de ferramentas interativas no processo de tomada de decisões, tornando o complexo tema da ciência climática acessível e engajador para a comunidade.
3. Planos de Ação Protagonistas: As propostas de adaptação foram formuladas pelas próprias comunidades, baseadas em dados científicos de projeção climática para os próximos 100 anos, visando a resiliência imediata e futura.
Legados para a Política Pública Global: Documentos da COP30
O evento gerou dois documentos políticos de grande importância, levados diretamente à COP30, em Belém do Pará, como resultado prático do engajamento comunitário na Bahia:
1. O Manifesto de Ação Climática dos Terreiros de Candomblé: Cosmopercepção Afro-Brasileira como Tecnologia Ancestral de Adaptação e Resiliência Climática. 2. A Carta da Juventude de Terreiros por um Futuro Possível. Estes documentos buscam influenciar políticas públicas, garantindo que a voz das comunidades tradicionais seja ouvida nos fóruns de decisão sobre o clima.
Ganhos para a UFBA e Premiação Internacional Histórica
O sucesso do Seminário e a repercussão do projeto reforçam o papel do PPGAU/UFBA e da FAUFBA no cenário global. O evento contou com a participação de figuras como o Prof. Emérito da UFBA, Ordep Serra, a Diretora de Ciências da National Geographic Society, a Presidente do ICOMOS Estônia, e a Professora Dra. Márcia Sant'Anna, validando a excelência acadêmica e a relevância prática da iniciativa.
A metodologia baiana recebeu o mais alto reconhecimento: Celso Almeida, local custodian do projeto e pesquisador dos Grupos EtniCidades e ArqPop (CNPq/PPGAU/UFBA), viajou diretamente para a COP30, em Belém, onde recebeu o prestigioso "Global Center on Adaptation (GCA): Local Champions Adaptation Award" na categoria "Citizen Science", representando o projeto e mais outros 74 custodians em todo o mundo.
O prêmio, recebido das mãos da Primeira-Dama do Brasil, Sra. Janja da Silva, e de Sua Alteza, a Princesa Dana Firas da Jordânia (Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO), endossa a Iniciativa Global Preserving Legacies. Este reconhecimento é um endosso direto ao modelo de pesquisa-ação desenvolvido na UFBA. Na COP30, Celso Almeida e Bruno Andrade, seu colega custodian e pesquisador de repatriação junto à FAUFBA,, ainda representaram o ICOMOS Internacional em um painel de alto nível, discutindo como o design-thinking pode impulsionar a Ação Climática, solidificando a conexão entre o trabalho de base em Salvador e os debates globais sobre a Agenda 2030.
O projeto, que conta com o apoio institucional e estratégico de entidades como IPHAN-Bahia, SEMUR - PMS e SEC - BA, finaliza esta etapa com o compromisso de transformar a metodologia validada em política pública para a proteção duradoura do patrimônio dos Terreiros de Candomblé da Bahia.
Legados para a Política Pública Global: Documentos da COP30